quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Carta ao Grupo AtivAção

Ao AtivAÇÃO

Olinda, 29 de dezembro de 2003.

Companheiros,

Sempre acreditei na militância. Militância que chamo de cristã, para tanto alguns valores devem ser preservados. A cumplicidade é um desses valores que precisam ser aprofundados em nossa caminhada. E isto se afirma quando temos um objetivo bem traçado.
Quando criamos o AtivAÇÃO definimos como objetivo a promoção da discussão política que promoveria a maturação da nossa consciência e a tomada de posição diante das condições de exclusão social em que o nosso bairro é submetido. Tudo isto a partir de uma ação libertária, ligada ao movimento popular organizado, priorizando os trabalhos com jovens e adolescentes no ramo cultural, esportivo, educacional e de mobilização comunitária. A nossa meta era ser vanguarda na organização popular do Engenho Maranguape.
Em um primeiro momento atingimos, ainda que parcialmente, esta meta. Desenvolvemos várias ações de resgate dos valores de nossa comunidade. Porém, novamente a cumplicidade não encontrou espaço em nosso meio e, em nome do objetivo, tivemos que afastar alguns membros que não entendiam o processo de resgate e politização ao qual nos destinávamos.
Particularmente, continuei acreditando que era possível amadurecermos juntos os nossos propósitos. Decidi investir financeiramente no grupo e adiei o meu projeto pessoal, prolonguei minha faculdade, adiei minha transferência de bairro, tudo sob forte pressão dos meus familiares. Por fim criamos uma estrutura de dá inveja a outros grupos que existem no bairro. Tínhamos Som, Palco, Bicicleta de Som, Ajuda financeira. Isto construído, tive certeza que seria o momento para iniciar um processo de retorno ao meu projeto pessoal e comecei a pregar a necessidade de outros assumirem a dianteira do grupo. Ao mesmo tempo a idéia do ativAÇÃO ter um candidato à Associação de Moradores foi ficando cada vez mais forte e as opiniões contrarias ao meu afastamento foram tomando outras conotações. Conotações que não refletiam as discussões que travávamos ao longo do processo. Mas que ajudavam a enfraquecer e tornar o grupo cada vez mais inoperante. O vigor de antes já não se reconhece mais em nosso grupo. É flagrante a falta de uma liderança que chame todos ao compromisso que assumimos a dois anos atrás quando traçamos os objetivos e o apresentamos à comunidade.
Desta forma nos deparamos com constantes contradições e tomadas de atitudes isoladas ou mal articuladas que têm nos colocados em cheque. O Episódio de ontem, dia 28/12, foi uma prova do que estou colocando. Companheiros, entendo que criamos uma estrutura para valorizar e resgatar a dignidade do nosso bairro, para tanto é natural que tudo que nos propusermos a fazer tenha que está de acordo com o nosso objetivo. Será que emprestar a nossa estrutura a pessoas que em outro momento foram afastado do nosso grupo por incompatibilidade aos nossos objetivos ou que historicamente são contrário ao nossos ideais, fortalece o nosso grupo ou nos joga a um enorme abismo?
Dei passos irrevogáveis rumo ao meu projeto profissional, tentei, paralelamente, criar em vocês uma autogestão. Vejo que não consegui! Mas nem por isso posso aceitar o rumo que as coisas estão tomando. O ativAÇÃO, que era referência de organização na comunidade, hoje já começa a ser confundido com outros... Atitudes como, cavalo-de-pau, promessas politiqueiras, com consecutivos não cumprimentos, só me leva a repetir que: Se já não posso assumir, deixo o grupo de vez.
Porém dois detalhes temos que resolver. O primeiro é o destino do Som e o segundo é quanto a ajuda financeira que canalizo para o grupo.
Quanto ao som, sugiro que vendam e me restituam na medida do possível, pois não concordo com a forma de empréstimos que hoje vigora no grupo. Já a ajuda financeira, estarei enviando cópia desta carta ao nosso Padrinho, vocês poderão visita-los e definir a continuidade com ele próprio. Ah, ainda há o projeto Reciclagem, que não saiu do papel. Isto para mim foi decepcionante pois ficou claro o desinteresse pelo assunto. Apenas Josivaldo mostrou empenho.

Sem mais,

Roberto Almeida.

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