Consumo o vilão ambiental

Assisto os telejornais, leio os artigos, escuto os programas de rádio, todos insistem em anunciar e discutir os mais mirabolantes planos e tecnologia para conter o aquecimento global e salvar o planeta de sua trajetória apocalíptica. Porém ninguém põe à mesa a única solução para o problema que é a redução do consumo.

Não precisa ir muito longe para encontrarmos exemplos de que o atual discurso ambiental dos governos e das empresas é mera balela e jogada de marketing. Há pouco li em um periódico técnico que uma gigante do segmento eletro-eletrônico iria iniciar um grande trabalho ambiental de compensação. Fiquei ansioso por conhecer o projeto, na mesma proporção que fiquei decepcionado quando descobri que não passava de mais uma projeto de reflorestamento. Esta é a parte ou a ação mais fácil que as empresas podem fazer. Minha perspectiva era o anuncio de uma solução para o e-lixo que esta empresa gera com os constantes lançamentos de celulares, computadores, máquinas fotográficas e outras. Mas isto garante o consumo! Não se mexe.

O governo brasileiro e o presidente Lula viraram garotos propaganda do biocombustível e o apresenta como a panacéia para o caos ambiental. E assim as montadoras tiveram mais um motivo para os anuais lançamentos de novos modelos e encheram o mercado com veículos do modelo flex e agora o tetrapower ou tetrafuel. Em quanto isto o programa brasileiro de mobilidade por bicicleta não anda, rasteja. Mas isto diminui o consumo de automóveis! Não se mexe.

A carne nossa de cada dia se transformou em um dos mais poderosos produtos de exportação do Brasil. Os gringos estão a cada dia se deliciando mais com este produto brasileiro e nós cada vez mais ocupamos os nossos finais de semana fazendo churrasco e se acabando na carne. Enquanto isto os pecuaristas avançam derrubando a floresta para aumentar as áreas de pasto do gado e garantir o crescente consumo demandado do mercado globalizado. A carne se transformou em commoditeis! Não se mexe.

O mesmo fenômeno da carne ocorreu, a parti dos anos 90, com a soja. Os mercados europeu e chinês passavam por uma crise de produção e oferta de proteína animal para ração e a soja foi a opção de substituição. Assim seria garantida a comida do gado, da galinha e do porco. Porém havia um problema de adaptação da soja à umidade e ao clima quente da Amazônia. Problema logo resolvido pelos nossos “gênios” à serviço do capital. Foi desenvolvida uma espécie de soja tolerante as rigorosas condições climáticas e as portas foram abertas ao extensivo cultivo em substituição à floresta. Mas isto garante o abastecimento do mercado externo e favorece a balança comercial. Não se mexe!

É urgente fazermos uma faxina em nossa vida e mudarmos o nosso modo de viver. Dizer não ao consumo exagerado. Contentar-se apenas com o suficiente. Ser prático e eficiente no nosso dia a dia e ir eliminando tudo que nos foi internalizado como bom e confortável. Pois estes conceitos nos troce um profundo prejuízo que é o comprometimento da existência das gerações futuras.

Reduzir o consumo é a única saída para a crise ambiental. Quando passarmos a deixar os nossos carros nas garagens e optarmos pelo transporte coletivo e as bicicletas, quando os governos passarem a traçar políticas públicas que garantam reais alternativas para garantir que esta mudança se consolide, aí sim, estaremos começando a caminhar para a solução do problema ambiental.

Roberto Almeida
Especialista em gestão ambiental