segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Dom Hélder - O Pioneiro da Teologia da Libertação

"Quando dou de comer aos pobres, chamam-me santo, quando respondo porque é que os pobres têm fome - chamam-me comunista":

Foi assim que dom Hélder resumiu suas dificuldades com as autoridades políticas e religiosas, quando era contestado a propósito de sua obra social e profética em favor de uma maior igualdade e justiça no país e dentro da Igreja. Não raramente se referiam a ele como o "bispo vermelho", especialmente nos duros tempos da ditadura.
Ele desejava uma Igreja mais participativa, orientada para a defesa dos pobres e a favor dos movimentos sociais. Quando foi substituído, em 1985, em seu serviço como arcebispo de Olinda e Recife, retirou-se para viver de maneira simples, coerente, até o fim da vida, com seu posicionamento a respeito da pobreza. Sua batina branca era surrada, celebrava suas missas sem pompas, morava numa casa modesta.
Sua obra, de fato, não o apresenta como teólogo, filósofo ou revolucionário teórico, mas como um pastor, no sentido mais amplos da palavra, preocupado com o bem-estar social e religioso do povo que ele amava.
Sua atuação transformadora começou a se manifestar, quando foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro, aos 43 anos. Além de ter sido um dos fundadores da CNBB (1952), também o foi da Conferência Episcopal latino-americana (CELAM). No inicio dos anos 60, dom Helder dedicou-se à preparação do Concílio Vaticano II convocado por João XXIII.
Realizando seus sonhos e suas aspirações de justiça social e caridade, dom Helder deixou várias obras como a Obra do Frei Francisco, criada no Rio de Janeiro; iniciou o Banco da Providência, hoje ampliado, que centralizava doações e as distribuía entre a população pobre. Também criou no Rio de Janeiro um projeto de urbanização de favelas, conhecido como Cruzada São Sebastião.
Em Pernambuco, realizou a primeira experiência de reforma agrária, comprando terras na Zona da Mata e assentando trabalhadores rurais.
Depois do golpe militar, após um primeiro período de convivência pacífica com o exército, ao ver a violação brutal dos direito humanos com a caça aos chamados comunistas, dom Helder passou a atuar em defesa dos presos políticos e contra a tortura no Brasil, cuja existência o governo militar procurava negar de todas as formas. Foi o período em que enfrentou as maiores dificuldades, mas também de maior projeção no exterior, tendo sido acusado pelos militares e por parte do clero conservador de promover atividades comunistas no País. O religioso passou a ser visto como simpatizante da esquerda e seu trabalho em defesa de uma Igreja mais aberta incomodava o regime militar. Através de documentos secretos, divulgados no livro "Dom Helder Câmara - entre o poder e a profecia", de Nelson Piletti e Walter Praxedes, descobriu-se que o governo Médici (1969-1974) organizou uma campanha contra a escolha do religioso para o Nobel da Paz, indicação promovida pelo episcopado alemão.
D. Hélder Câmara é lembrado na história da Igreja Católica, no Brasil e no mundo, como um Apóstolo, que soube honrar o Brasil e usar o carisma de defensor da paz e da justiça para os filhos de Deus.

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